Doutorando no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (ProPEd/UERJ). Membro do Grupo de Estudos em Gênero e Sexualidade e(m) Interseccionalidades (Geni) e do Grupo de Pesquisa Docência e Cibercultura (GPDOC). Bolsista Doutorado-Sanduíche FAPERJ pela Universidad Complutense de Madrid. Orcid: http://orcid.org/0000-0001-7398-6171 E-mail: felipesilvaponte@gmail.com
As práticas cotidianas mediadas pelas tecnologias digitais em rede vêm reconfigurando a cultura, dando sentido e forma à cibercultura. Nessa ambiência, temos acompanhado as políticas de ódio que promovem e se desdobram em (micro)práticas fascistas, sobretudo, aquelas práticas que moram dentre de nós, mas que às vezes nos escapam e as publicamos e partilhamos nas redes online, as quais denominamos de práticas ciberfascistas: práticas de ódio contra gênero, sexualidade, raça, classe, território... Para analisar as práticas ciberfascistas e refletir em possibilidades de uma vida não fascista, que são as apostas desta pesquisa cartográfica, utilizamos acontecimentos que reverberaram nas redes online. Cartografamos rastros digitais e tecemos teorizações para problematizar o tempo presente articuladas com o episódio “Engenharia Reversa” do seriado “Black Mirror”. Como resultado dessa pesquisa, destacamos algumas práticas ciberfascistas: o uso de perfil falso; ataques por causa da ausência de face; linchamento em rede; e fake news para letalização dx outrx. Como modos de (re)existência não fascista, destacamos as práticas: ampliar a liberdade ética-estética-política e de respeito ao outro; combater sem cessar as políticas de ódio; e potencializar múltiplas formas de resistência, de produzir e dar sentidos a novos contornos à vida cotidiana, ao viver em rede.
Citas
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