PRÁTICAS CIBERFASCISTAS

É POSSÍVEL PENSAR-FAZER UMA ENGENHARIA REVERSA QUE ROMPA COM O IMPLANTE DESEJANTE FASCISTA?

Autores

Palavras-chave:

Prática ciberfascistas, engenharia reversa, cartografia

Resumo

As práticas cotidianas mediadas pelas tecnologias digitais em rede vêm reconfigurando a cultura, dando sentido e forma à cibercultura. Nessa ambiência, temos acompanhado as políticas de ódio que promovem e se desdobram em (micro)práticas fascistas, sobretudo, aquelas práticas que moram dentre de nós, mas que às vezes nos escapam e as publicamos e partilhamos nas redes online, as quais denominamos de práticas ciberfascistas: práticas de ódio contra gênero, sexualidade, raça, classe, território... Para analisar as práticas ciberfascistas e refletir em possibilidades de uma vida não fascista, que são as apostas desta pesquisa cartográfica, utilizamos acontecimentos que reverberaram nas redes online. Cartografamos rastros digitais e tecemos teorizações para problematizar o tempo presente articuladas com o episódio “Engenharia Reversa” do seriado “Black Mirror”. Como resultado dessa pesquisa, destacamos algumas práticas ciberfascistas: o uso de perfil falso; ataques por causa da ausência de face; linchamento em rede; e fake news para letalização dx outrx. Como modos de (re)existência não fascista, destacamos as práticas: ampliar a liberdade ética-estética-política e de respeito ao outro; combater sem cessar as políticas de ódio; e potencializar múltiplas formas de resistência, de produzir e dar sentidos a novos contornos à vida cotidiana, ao viver em rede.

Biografia do Autor

Felipe da Silva Ponte de Carvalho, Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Doutorando no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (ProPEd/UERJ). Membro do Grupo de Estudos em Gênero e Sexualidade e(m) Interseccionalidades (Geni) e do Grupo de Pesquisa Docência e Cibercultura (GPDOC). Bolsista Doutorado-Sanduíche FAPERJ pela Universidad Complutense de Madrid. Orcid: http://orcid.org/0000-0001-7398-6171  E-mail: felipesilvaponte@gmail.com

Referências

ALVAREZ, J.; PASSOS, E. Cartografar é habitar um território existencial. In.: PASSOS, Eduardo Passos; KASTRUP, Virgínia Kastrup e ESCÓSSIA, Liliana (orgs). Pistas do método da cartografia: Pesquisa-intervenção e produção de subjetividade. Porto Alegre: Sulina, 2009,131-149 p.
BRUNO, F. Rastros digitais sob a perspectiva da teoria ator-rede. Porto Alegre: Revista Famecos, v. 19, n. 3, setembro/dezembro 2012, p. 681-704.

BRAGA, R, M. C. A indústria das fake news e o discurso de ódio. In: PEREIRA, R.V. (Org.). Direitos políticos, liberdade de expressão e discurso de ódio. Volume I. Belo Horizonte: IDDE, 2018. p. 203-220. ISBN 978-85-67134-05-5.

CARVALHO, F. S. P.; MARTI, F.; JUNGER, V. Movimentos e mobilizações em rede: marcha pela ciência. In: PORTO, C., OLIVEIRA, K. E., ROSA, F. (Org.). Produção e difusão de ciência na cibercultura: narrativas em múltiplos olhares. 1ed.Ilhéus/BA: Editus, 2018, v. 1, p. 153-168.

CARVALHO, F. S. P.; ROSENO, R.; e POCAHY, F. Cartografias de rede de aquendação em grupos (homo)eróticos no Facebook: dissidências de gênero, sexualidade e envelhecimento. In: POCAHY, F; CARVALHO, F. S. P.; COUTO JUNIOR, D. R. (Org.). Gênero, sexualidade e geração: intersecções na educação e/m saúde. Aracaju: EDUNIT, 2018, p. 129-148.

COSTA, C. Delegado de Pernambuco é afastado após postagens sobre Marielle Franco. Jornal Extra Online, 2018. Disponível em: https://extra.globo.com/casos-de-policia/delegado-de-pernambuco-afastado-apos-postagens-sobre-marielle-franco-22502524.html?utm_source=Twitter&utm_medium=Social&utm_campaign=compartilhar> . Acessado em: 25/03/2018

COUTO JUNIOR, D. R. Quem se importa? Marcas do preconceito e da discriminação nas redes sociais digitais. Pernambuco: Revista Temática, Ano X, n. 09, Setembro, 2014, p. 95 -109.

DUARTE, A. Foucault e as novas figuras da biopolítica: o fascismo contemporâneo. In.: RAGO, Margareth; VEIGA-NETO, Alfredo (orgs.). Para uma vida não fascista. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2015, p. 35 – 50.

DERY, M. Flame wars: the discourse of cyberculture. Duke University Press, 1994.

DELEUZE, G.; GUATTARI, F. O anti-édipo: capitalismo e esquizofrenia. Tradução Luiz B. l. Orlandi, São Paulo, EDITORA 34, 2ª edição, 2011.

ENGENHARIA, Reversa. Série Black Mirror. NetFlix, 2016.

FOUCAULT, M. O Ante-édipo: uma introdução à vida não fascista. Cadernos de Subjetividade / Núcleo de Estudos e Pesquisas da Subjetividade do Programa de Estudos Pós-Graduados em Psicologia Clínica da PUC-S, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 197-200, 1993.

FOUCAULT, M. História da sexualidade 1: vontade de saber. Tradução Maria Thereza da Costa Albuquerque e J. A. Guilhon Albuquerque, Rio de janeiro/ São Paulo, 6 ª edição, Paz e Terra, 2017.

G1 - O Portal de Notícias da Globo/Facebook. Matheusa foi “julgada” antes de ser morta por traficantes, diz delegada. 2018. Disponível: <https://www.facebook.com/g1/posts/2140478696004204?comment_id=573182126397597&notif_id=1525994770010193&notif_t=comment_mention&ref=notif
>. Acesso em: 10/05/2018

GUATTARI, F. A revolução molecular: pulsações políticas do desejo. Tradução Suely Belinha Rolnik, São Paulo: Editora Brasiliense, 3ª edição, 1987.

GOFFMAN, E. Interaction ritual: essays on face-to-face behavior. Garden City: Anchor Doubleday, 1967.

HERINGER, C.; MARINATTO, L. Delegado afastado de caso de estupro é dispensado do cargo. JORNAL EXTRA ONLINE, 2016. Disponível em: <https://extra.globo.com/casos-de-policia/delegado-afastado-de-caso-de-estupro-dispensado-do-cargo-19461382.html>. Acessado em: 21/05/2018

LEMOS, A. Cibercultura como território recombinante. In: MARTINS, C. D. et al (Org.). Territórios recombinantes: arte e tecnologia – debates e laboratórios. São Paulo: Instituto Sérgio Motta, 2007. p.35-48.

LOBO, R. A. Á.; FILHO, M. S. D. C. Notas sobre o linchamento em rede: apontamentos introdutórios a partir de uma pesquisa documental em andamento. ANAIS IX Simpósio Nacional da ABCibe – Cibercultura, Democracia e Liberdade no Brasil, 2016.

LOURO, G. L. Um corpo estranho: ensaios sobre sexualidade e teoria queer. 2 ed.; 3. Reimp. – Belo Horizonte: Autêntica, 2016.

MARTÍN, M. Crivella veta no Rio a exposição Queermuseu, censurada em Porto Alegre. EL PAÍS ONLINE, 2017. Disponível: <https://brasil.elpais.com/brasil/2017/10/04/cultura/1507068353_975386.html> . Acessado em: 16/05/2018.

NARDI, H. C.; SILVA, R. N. 2005. Ética e subjetivação: as técnicas de si e os jogos de verdade. In.: GUARESCHI, N. M.; HÜNING, S. M.; RODRIGUES, H. B. C. (eds.). Foucault e a psicologia. Porto Alegre: Abrapso Sul, p. 107 - 128.

O Globo. Como ganhou corpo a onde de fake News sobre Marielle Franco. 23/03/2018. Disponível em: <https://oglobo.globo.com/rio/como-ganhou-corpo-onda-de-fake-news-sobre-marielle-franco-22518202>. Acessado em: 16/05/2018

O Globo. Jair Bolsonaro lança panfleto contra homossexuais; MEC vai distribuir kits anti-homofobia em escolas. 2011. Disponível em: https://oglobo.globo.com/politica/jair-bolsonaro-lanca-panfleto-contra-homossexuais-mec-vai-distribuir-kits-anti-homofobia-em-escolas-2771521#ixzz5G3GYLNG0. Acessado em: 16/05/2018

PORTA T1. Magistrada acusa vereadora Marielle Franco de ligação com o Comando Vermelho – Desembargadora Marília Castro Neves afirma que vereadora foi morta por "descumprir acordos firmados". PSOL promete ação na justiça. 2018. Disponível em: < https://www.portalt5.com.br/noticias/brasil/2018/3/68826-magistrada-acusa-vereadora-marielle-franco-de-ligacao-com-o-comando-vermelho>. Acessado em: 25/03/2018

RECUERO, R. Redes Sociais na Internet. Porto Alegre: Sulina, 2009.

RECUERO, R. Atos de Ameaça a Face e a Conversação em Redes Sociais na Internet. In: PRIMO, A. (Org.). Interações em Rede. 1ed.Porto Alegre: Sulina, 2013, v. 1, p. 51-70.

ROSE, N. Inventando nossos selfies: psicologia, poder e subjetividade. Petrópolis: RJ: Editora Vozes, 2011.

ZAGO, L. F. Conhecimento em tempos de ódio a pesquisa não fascista e a pesquisa impertinente com gênero e sexualidade. BAGOAS, n. 16, 2017, p. 79-110.

Downloads

Publicado

2020-05-29

Como Citar

CARVALHO, F. da S. P. de; SPINELI, P. PRÁTICAS CIBERFASCISTAS: É POSSÍVEL PENSAR-FAZER UMA ENGENHARIA REVERSA QUE ROMPA COM O IMPLANTE DESEJANTE FASCISTA?. Communitas, [S. l.], v. 4, n. 7, p. 43–58, 2020. Disponível em: https://periodicos.ufac.br/index.php/COMMUNITAS/article/view/2990. Acesso em: 28 mar. 2024.

Edição

Seção

Dossiê Temático

Artigos mais lidos pelo mesmo(s) autor(es)