Os escritos literários de David Gonçalves designam relações alegóricas e desvelam o modo de vida de trabalhadores do campo oriundos do êxodo rural que migraram para as periferias das cidades. O objetivo desta pesquisa é disseminar reflexões acerca das experiências simbólicas de práticas culturais dos personagens ficcionados na narrativa O Sol dos Trópicos, por meio da análise discursiva que aciona os fundamentos da análise do discurso de Fairclough (2001). As proposições teóricas de Barthes (1978), Bakhtin (2010), Cândido (2000) favoreceram o diálogo entre a literatura, a sociologia e a história acerca da condição humana e as mudanças na cultura dos grupos sociais marginalizados na pós-modernidade, pautada nos estudos de Certeau (2001), Bauman (1998), Hall (2011), Simas e Rufino (2020). A narrativa analisada aponta mecanismos políticos e econômicos que atuam na desconstrução dos vínculos dos personagens migrantes com a terra e na exclusão deles ao passarem a exercer trabalhos informais como boias-frias. Das vivências desses grupos marginalizados, ressignificadas pela literatura, emergem liames com a raiz cultural brasileira materializada na música caipira e nos traços culturais da tradição oral e indícios de organização coletiva, em um contexto de multiplicidade cultural, contradições socioeconômicas e desigualdade social, que caracteriza os centros urbanos a partir da migração. Denota a resiliência desses grupos diante das adversidades e a fixidez das estruturas sociais que (in)visibilizam aqueles que não estão inseridos no jogo social vigente.
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