“Prazer, sou o MHD”

reflexões sobre nomes próprios, identidades e equívocos em documentos de migrantes refugiados

Autores/as

  • Raquel Heckert César Bastos Universidade Estadual de Campinas

DOI:

https://doi.org/10.29327/210932.8.2-11

Palabras clave:

Identidades. Nomes próprios. Refugiados. Políticas de acolhimento.

Resumen

Atendendo refugiados em uma ONG paulistana, encontrei documentos em que se lia MHD  em vez de Mohamed. Questionamentos surgiram sobre nomes e identidades, bem como o significado deste e de outros atos falhos em documentos de migrantes. Por Hall (2006), Bauman (2005) e Silva (2000), discorro sobre perspectivas de identidade. Apoio-me em Mariani (2014) para entender a relação entre identidades e nomes próprios. Apresento exemplos de mídias online, textos acadêmicos e narrativas literárias para investigar a ligação entre nome e existência. Por fim, apresento casos de dezessete famílias refugiadas em cujos documentos encontram-se: a) abreviação; b) diferentes nomes/sobrenomes para a mesma pessoa; c) diferentes sobrenomes para pessoas da mesma família. A discussão sinaliza que o trato dado ao nome reflete o trato dado à própria pessoa, indicando pressupostos de um sujeito subconsciente com o poder de nomear um Outro que não compreende.

Citas

ANUNCIAÇÃO, R. F. Somos mais que isso: práticas de (re)existência de migrantes e refugiados frente à despossessão e ao não reconhecimento. Dissertação de Mestrado. 127 f., Instituto de Estudos da Linguagem, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2017.

APPADURAI, A. Grassroots globalization and the research imagination. In: APPADURAI, A. (Ed.). Globalization. Durham, NC: Duke University Press, 2001. p. 1-21.

_____. Modernity at large: cultural dimensions of globalization. Minneapolis: University of Minnesota Press, 1996.

BARRETO, L. P. T. F. A lei brasileira de refúgio - sua história. In: BARRETO, L. P. T. F. (Org.). Refúgio no Brasil: a proteção brasileira aos refugiados e seu impacto nas Américas. Brasília: ACNUR, Ministério da Justiça, 2010, p. 216.

BAUMAN, Z. Identidade: entrevista a Benedetto Vecchi. Trad. Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2005.

BBC BRASIL. A gratidão ao Brasil da refugiada sem pátria que acabou perdendo irmão em assalto. 2017. Disponível em: < http://www.bbc.com/portuguese/brasil-4153144 >. Acesso em: 23 nov. 2017.

BÍBLIA, Português. A Bíblia Sagrada: Antigo e Novo Testamento. Tradução de João Ferreira de Almeida. Edição revista e atualizada no Brasil. Brasília: Sociedade Bíblica do Brasil, 1969.

BIZON, A. C.; CAMARGO, H. Acolhimento e ensino da língua portuguesa à população oriunda de migração de crise no município de São Paulo: por uma política do atravessamento entre verticalidades e horizontalidades. In: BAENINGER, R. et al. (Orgs.). Migrações Sul-Sul. Campinas: Núcleo de Estudos de População “Elza Berquó” – Nepo/Unicamp, 2018.

BRASIL. Congresso Nacional. Lei nº 9.474, de 22 de julho de 1997. Define mecanismos para a implementação do Estatuto dos Refugiados de 1951, e determina outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 23 jul. 1997, p. 15822. Disponível em: < http://pesquisa.in.gov.br/imprensa/jsp/visualiza/index.jsp?jornal=1&pagina=22&data=23/07/1997 >. Acesso em: 28 set. 2019.

BRASIL. Lei nº 13.445, de 24 de maio de 2017. Institui a Lei de Migração. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 25 mai. 2017b. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/lei/L13445.htm>. Acesso em 25 set. 2019.

CAMARGO, H. Diálogos transversais: narrativas para um protocolo de encaminhamentos para políticas de acolhimento a migrantes de crise. Tese de Doutorado. 284 f., Instituto de Estudos da Linguagem, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2019.

CORREIO BRASILIENSE. Campanha na internet quer que afegãs tenham uma identidade: Por tradição e conservadorismo, os nomes das mulheres no Afeganistão são omitidos nos convites e, até mesmo, nas lápides. 2017. Disponível em < http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/mundo/2017/08/24/interna_mundo,620495/campanha-na-internet-quer-que-as-afegas-tenham-uma-identidade.shtml >. Acesso em 23 nov. 2017

GUIMARÃES, Eduardo. Semântica do Acontecimento. Campinas: Pontes, 2002.

GRISPINO, I. Gerações de brasileiros sem-documento. 2004. Disponível em < http://www.izabelsadallagrispino.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=1229:geracoes-de-brasileiros-sem-documentos&catid=103:artigos-educacionais&Itemid=456 >. Acesso em 29 set. 2019.

HALL, S. A Identidade Cultural na Pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A, 2006.

HYPENESS. Mulheres afegãs criam campanha para usar seu nome publicamente. 2017. Disponível em < http://www.hypeness.com.br/2017/08/mulheres-afegas-criam-campanha-para-usar-seu-nome-publicamente/ >. Acesso em 23 nov. 2017.

LOPES, V. Nomes registrados com grafia errada resultam em problemas graves. 2015. Disponível em < https://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2015/05/02/interna_gerais,643202/nomes-registrados-com-grafia-errada-resultam-em-problemas-graves.shtml >. Acesso em 23 nov. 2017.

MAHER, T. J. M. A educação do entorno para a interculturalidade e o plurilinguismo. In: KLEIMAN, A. B.; CAVALCANTI, M. C. (Orgs.). Linguística Aplicada: faces e interfaces. Campinas: Mercado de Letras, 2007a. p. 255-270.

MARIANI, B. Nome próprio e constituição do sujeito. In: Letras. Santa Maria, vol. 24, n. 48, p. 131-141, jan.-jun. 2014.

PAOLINI, C. Eragon. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 2005.

SANTOS, Milton. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. São Paulo: Record, 2000.

SILVA, M. F. A. Nomear. In: Anais do I Seminário Interno de Pesquisas do Laboratório Arquivos do Sujeito. Niterói, vol. 1, p.102-122, 2012.

SILVA, T. T. A produção social da identidade e da diferença. In: SILVA, T. T. (Org.) Identidade e Diferença: a perspectiva dos estudos culturais. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000.

Publicado

2020-12-07

Cómo citar

Bastos, R. H. C. (2020). “Prazer, sou o MHD”: reflexões sobre nomes próprios, identidades e equívocos em documentos de migrantes refugiados. Muiraquitã: Revista De Letras E Humanidades, 8(2). https://doi.org/10.29327/210932.8.2-11