“Prazer, sou o MHD”
reflexões sobre nomes próprios, identidades e equívocos em documentos de migrantes refugiados
DOI:
https://doi.org/10.29327/210932.8.2-11Palavras-chave:
Identidades. Nomes próprios. Refugiados. Políticas de acolhimento.Resumo
Atendendo refugiados em uma ONG paulistana, encontrei documentos em que se lia MHD em vez de Mohamed. Questionamentos surgiram sobre nomes e identidades, bem como o significado deste e de outros atos falhos em documentos de migrantes. Por Hall (2006), Bauman (2005) e Silva (2000), discorro sobre perspectivas de identidade. Apoio-me em Mariani (2014) para entender a relação entre identidades e nomes próprios. Apresento exemplos de mídias online, textos acadêmicos e narrativas literárias para investigar a ligação entre nome e existência. Por fim, apresento casos de dezessete famílias refugiadas em cujos documentos encontram-se: a) abreviação; b) diferentes nomes/sobrenomes para a mesma pessoa; c) diferentes sobrenomes para pessoas da mesma família. A discussão sinaliza que o trato dado ao nome reflete o trato dado à própria pessoa, indicando pressupostos de um sujeito subconsciente com o poder de nomear um Outro que não compreende.
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