Aprendizagem de Português escrito por indígenas Jaminawa
dificuldades e estratégias facilitadoras
DOI:
https://doi.org/10.29327/216342.4.2-2Palavras-chave:
Jaminawa, Português, Aprendizagem, L2Resumo
O presente trabalho é um dos resultados da análise de textos escritos em português por índios bilíngues da etnia Jaminawa, falantes da língua Jaminawa (Pano) como L1, que estudam em uma escola pública não-indígena, situada no município de Sena Madureira-AC. O objetivo da pesquisa foi descrever e analisar a produção escrita dos aprendizes Jaminawa, identificando, em seus textos, as interferências da variedade oral do português falado pelos indígenas e da língua nativa, além das hipóteses e estratégias que os aprendizes desenvolveram para produzir textos escritos em português. Para a análise do material de pesquisa, seguiu-se a seguinte proposta metodológica: levantamento dos índios Jaminawa que estudavam na escola e que tivessem conhecimento de português escrito; em uma sala de aula da escola, foi lida aos índios uma história própria do folclore indígena local e pedido que escrevessem, à sua maneira, a história ouvida. Produziram-se 30 textos escritos. Após a análise do material, foram identificadas as seguintes características na produção escrita dos participantes da pesquisa: desconhecimento da estrutura lógica do texto escrito; desconhecimento das regras de grafia do português; dificuldade em diferenciar traços de sons distintivos e outras características fonológicas; interferência do português oral na variedade escrita da língua portuguesa e interferências estruturais da língua Jaminawa no português escrito pelos índios. Concluiu-se, da análise do material, que as inadequações de escrita apresentadas pelos índios refletem a capacidade que os aprendizes Jaminawa têm em criar estratégias para sanar as suas dificuldades em entender as regularidades e idiossincrasias do português escrito e que se faz necessário o desenvolvimento de políticas públicas nos âmbitos municipal, estadual e federal que viabilizem ações perante classes de alunos que não têm o português como L1. Uma dessas ações seria dar subsídio teórico-metodológico de ensino de português como L2 aos professores para atuarem satisfatoriamente junto a esse público.
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