Dossiê Temático
v. 5 n. 10 (2021): OS SABERES AUSENTES DA CIDADE LETRADA NO SÉCULO XXI
“OS MORTOS NÃO SABEM O PREÇO DOS CAIXÕES”:: Afrorrealismo na literatura haitiana
Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS
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Enviado
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abril 1, 2021
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Publicado
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2021-08-02
Resumo
A concepção do fato literário como fato social (SAPIRO, 2016) legitimou a pesquisa sociológica junto às obras de literatura, sobretudo pela razão de que a forma literária opera enquanto expressão estética da vida material. À luz do materialismo histórico e dialético, o presente artigo interpela o conceito de zumbificação desenvolvido em memoráveis obras da literatura haitiana, como Adriana em todos os meus sonhos (DEPESTRE, 1996), Pau de Sebo (DEPESTRE, 1983) e País sem chapéu (LAFERRIÈRE, 2011). Tal noção conceitual exprime particularidades do realismo literário inerente aos escritores haitianos que, por entre as frestas da cidade letrada (RAMA, 2015), afirmaram o vodu e a oralidade na qualidade de fenômenos organizadores da sociabilidade do país caribenho. Deste modo, recorremos à ideia de afrorrealismo (DUNCAN, 2006), no que concerne ao debate estético dos textos selecionados, e ao conceito de realismo capitalista (FISHER, 2020), para formularmos uma reflexão crítica a respeito das contribuições da literatura de autoria haitiana, de modo geral, e da noção de zumbificação, em específico, junto aos estudos de sociologia da literatura.
Referências
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