Neste texto analisamos as agendas de gênero nas redes políticas globais e suas influências na produção de textos de políticas de currículo para a Educação de Jovens e Adultos - EJA, ou seja, é uma análise da governança. Metodologicamente, a pesquisa tem um viés qualitativo e documental, onde são analisados documentos internacionais. Nossas análises ancoram-se nos estudos de Bowe, Ball e Gol (1992) e Ball (2014), que percebem a política como redes situadas no processo de globalização, capaz de exerce influência sobre as políticas educacionais em âmbito global, causando mudanças na economia e na política com vistas à mudar culturas, identidades e as subjetividades. Entretanto, as políticas são parte de um processo contínuo que está sujeito a rejeição total e/ou parcial no contexto da prática. Tal forma de perceber os processos de atuação da política educacional nos dá subsídios para explicar a ausências de discussões sobre gênero no dia a dia da prática docente. O que nos leva a considerar que enquanto imersas nas várias dimensões do poder, as políticas curriculares que buscam a equidade entre os gêneros, através da educação, não são suficientes para provocar uma mudança na cultura machista. Assim, chegamos à configuração Frankenstein de uma política. O texto que emerge dos tensionamentos ideológicos não é representativo de uma única ideologia que estava em disputa no processo de formulação, mas possui aspectos de todas, em intensidades diferentes. Por fim, esse movimento ainda passa despercebido na EJA, onde as diferenças estão sendo constantemente reduzidas à geracionalidade.
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