CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS E EPIDEMIOLÓGICAS DAS ENTRADAS POR TENTATIVAS DE SUICÍDIO DE UM HOSPITAL PÚBLICO DO MUNICÍPIO DE RIO BRANCO/AC NO PERÍODO DE 2007 A 2016
Abstract
Nos últimos anos, a atenção aos comportamentos suicidas vem aumentando, principalmente pelas estimativas de que podem ocorrer anualmente de 800 a 1 milhão de óbitos por suicídio no mundo, com estudos apontando para a possibilidade de que existam de 10 a 40 tentativas para cada suicídio consumado, revelando seu alto impacto (pessoal, social e econômico) e sendo considerado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como um grave problema de saúde pública. Mas, apesar destes números alarmantes, estudos têm revelado também que os dados estão subestimados, pois o sub-registro e a subnotificação acabam fazendo com que os índices reais de suicídio não sejam conhecidos. E, quando se fala sobre as tentativas de suicídio, a situação se agrava ainda mais, pois, a dificuldade em determinar a intencionalidade do ato faz com que a grande maioria das tentativas se dissipe nas unidades de saúde entre as ocorrências consideradas acidentais. E esta é uma situação considerada grave, porque, além da subnotificação, diante da não identificação da tentativa de suicídio, o paciente pode entrar e sair da unidade de saúde sem receber os acompanhamentos e encaminhamentos necessários, mantendo-se em uma situação de risco que pode levar ao óbito, principalmente ao se levar em conta que ter histórico de tentativa de suicídio é um dos principais preditores para o suicídio consumado. Diante disto, este estudo, descritivo e retrospectivo, com utilização de dados secundários, tem como objetivo avaliar as características clínicas e epidemiológicas das tentativas de suicídio de um hospital público do município de Rio Branco/AC, no período de 2007 a 2016. A amostra foi composta por 569 casos de tentativas de suicídio e a análise foi realizada através das frequências (simples, absolutas e relativas) e dos testes T de Student, Kruskal Wallis, Odds Ratio e Risk Ratio. Os resultados mostraram que não houve diferença significativa em relação ao total geral de entradas de tentativas de suicídio por gênero. No entanto, a partir de 2014, após uma mudança no sistema de registro, o número de tentativas de suicídio em mulheres se sobrepôs ao dos homens. A intoxicação foi o método mais utilizado, com maior frequência em mulheres. A faixa etária de maior risco foi dos 10 aos 29 anos (mais de 70%), sendo seguida pela faixa etária de 30 a 39 anos, revelando a prevalência de tentativas de suicídio em adolescentes e jovens adultos. Os setores que atenderam mais casos foram a Emergência Traumática e a Emergência Clínica, tendo o domingo como dia da semana com maior número de ocorrências, assim como os períodos noturno e vespertino. Os meses com maior e menor número de entradas foram abril e julho, respectivamente. E, dos pacientes que receberam alta, 93% permaneceu menos de 24 horas no hospital, podendo indicar melhora clínica ou não consideração da gravidade da tentativa de suicídio na perspectiva dos cuidados em Saúde Mental. Diante de tais achados, destaca-se a necessidade de outros estudos sobre comportamentos suicidas no município, que possam trazer mais informações sobre este agravo e auxiliar no desenvolvimento de estratégias de prevenção.