BICHO-DE-CASCO NO VALE DO GUAPORÉ-RO
Abstract
O Vale do Guaporé, situado no estado de Rondônia, é uma região rica em diversidade étnico-racial. Desde o século XVIII, a área passou por um processo de colonização e catequização, liderado por missionários religiosos e exploradores de minas de ouro. Esses colonizadores empregaram mão de obra escrava na extração de pedras preciosas, na proteção da região (que era objeto de disputa entre portugueses e espanhóis) e na produção de borracha. Hoje, o Vale do Guaporé é lar de brasileiros quilombolas, indígenas e bolivianos. Esses grupos mantêm vivas suas tradições através de intercâmbios, negociações e trocas culturais, que incluem práticas alimentares. Um exemplo é o consumo do "bicho-de-casco", nome dado pelos guaporenses ao tracajá, um quelônio muito apreciado na dieta das famílias da Amazônia. Este estudo tem como objetivo analisar a preparação da carne de bicho-de-casco no Vale do Guaporé, região de fronteira entre Brasil e Bolívia, entendendo seus significados na construção identitária e cultural dessas populações. A análise é baseada nas narrativas orais de duas mulheres contadoras de histórias, Olandina Braga e Joana Gomes, que nasceram e viveram nessa região. Para a realização deste trabalho, foi feita uma pesquisa bibliográfica e etnográfica, fundamentada em autores como Teixeira e Fonseca (2001), Bastos (1987), Fiori e Santos (2015) e Silva (2023), entre outros. O bicho-de-casco, servido de diversas formas - como farofa no casco, mixira, guisado ou sarapatel - é mais do que um alimento. Ele é um símbolo de identidade e cultura, pois representa práticas alimentares milenares que são transmitidas de geração em geração por diversos grupos sociais, em suas idas e vindas pelas florestas e rios amazônicos.