IDEOLOGIA UTILITARISTA E SENSACIONALISMO NO JORNALISMO CIENTÍFICO BRASILEIRO
Resumo
Muito se tem alertado para a baixa qualidade da divulgação de ciência no Brasil. Ela não é fruto da incompetência, ou ao menos, não somente desta, mas de uma ideologia mercantil e utilitarista por um lado, e um sensacionalismo fantástico por outro. Em ambos os casos o efeito é demasiado nocivo: ao ler uma matéria sobre ciência, ou se têm a sensação de que ela é mais uma commodity dentre outras, ou se confunde ciência com ficção científica. Raramente se apreende a ciência tal como é feita, seu pluralismo, seu caráter de construção coletiva inacabada, seu espírito crítico e valor cultural.
O futuro cientista, e os jornalistas científicos devem sabê-lo, precisam se colocar a questão posta pelos grandes cientistas filósofos do século XX, como Poincaré, Heisenberg e Schrödinger: “Qual é o valor da ciência?”. Questão que em 2015 embalou a Reunião Magna da Academia Brasileira de Ciências [3]. Evidentemente a ciência gera e demanda desenvolvimentos tecnológicos e inovações técnicas. No entanto, há algo na ciência que é de natureza intangível. Filósofos naturais e cientistas de todos os tempos foram movidos por interesses práticos, concretos, profissionais e pessoais? Sem dúvidas, pois não estavam acima da condição humana. A ciência não é uma torre de marfim etérea apartada da realidade histórica e social. Mas isto não significa que não houvesse algo a mais. Também os poetas e as poetisas são homens e mulheres de carne e osso, e nem por isso sua poesia é feita apenas de matéria vil. No caso da ciência, o que é esse algo a mais? Podemos dizer que é a busca do conhecimento como um fim nobre em si mesmo, a paixão por compreensão, a capacidade de não ser utilitarista a ponto de valorizar somente aquelas ações e saberes capazes de produzir aplicações práticas em curto prazo. Sem isso, não avançariam a cosmologia e a física fundamental, a matemática pura ou a antropologia etc. Ciência e tecnologia não podem ser dissociadas, mas também não podem ser confundidas. Sempre que o jornalismo científico não faz esse recorte crítico, reforça uma imagem distorcida da pesquisa científica, como que a justificando socialmente pelos resultados práticos e econômicos que é capaz de gerar.
Referências
GUIMARÃES, S.P. Petrópolis recebe Santos Dumont, o maior supercomputador do Brasil. http://vejario.abril.com.br/cidades/petropolis-recebe-santos-dumont-o-maior-supercomputador-do-brasil/
SILVA, V. C. As distorções do jornalismo científico. http://observatoriodaimprensa.com.br/imprensa-em-questao/as-distorcoes-do-jornalismo-cientifico/
SILVA, V. C. Entre a pesquisa fundamental e a pesquisa aplicada: Qual o valor da Ciência? http://www.rio2015.esocite.org/resources/anais/5/1442022400_ARQUIVO_ViniciusEntreapesquisafundamentaleapesquisaaplicadaQualovalordaCiencia.pdf