O JIHAD MIDIÁTICO DO ESTADO ISLÂMICO: FORMAS DE TENSIONAMENTO DA IDENTIDADE MUÇULMANA NA EUROPA

Resumen

Este artigo discute formas pelas quais o grupo autointitulado Estado Islâmico (EI) logrou tensionar a identidade muçulmana na Europa, por meio de sua estratégia de propaganda oficial voltada para um público ocidental e da valorização da atuação de seguidores da região no jihad midiático nas plataformas digitais. São explorados vídeos e revistas produzidos pelo al-Hayat Media Center, um departamento predominantemente voltado para a elaboração de material de comunicação de alta qualidade para audiências do Ocidente, e a atuação dos seguidores nas redes sociais digitais. A proposta não é a realização de um exame rigoroso da produção comunicacional do grupo, mas, através da análise de uma compilação de publicações em mídias digitais, apreender como esta serve, em conjunto, ao propósito de engajamento de indivíduos na Europa, com ênfase em tópicos relativos a questões identitárias, existenciais e de pertencimento. No estudo, a noção de identidade religiosa tem centralidade, com a religiosidade considerada um marcador identitário, já que esta se manifesta de forma atípica no contexto investigado. Na comunicação do grupo, a identidade islâmica é construída como oposta à europeia, com o intuito de gerar um conflito de lealdades, particularmente para indivíduos de segundas e terceiras gerações de ascendência muçulmana nascidos no continente, em um momento de crise de pertencimento. A narrativa do EI é enfocada pelo prisma de sua função como aglutinadora de dinâmicas e problemáticas já em curso, iluminando aspectos pouco estudados do fenômeno de engajamento de europeus ao grupo.