ATYÔ, ABÊ E AZÊ VEM NOS VISITAR, O DIA DA FESTA CHEGOU
O OFERECIMENTO DA ROÇA TRADICIONAL DOS INDÍGENAS HALITI, ALDEIA PARAÍSO, MATO GROSSO, BRASIL
Resumo
No Centro-Oeste do Brasil encontram-se os índios Paresi, que se autodenominam Halíti. Este povo está inserido em uma área ecotonal de cerrado e Amazônia que, ao longo do tempo, tem sofrido diversos tipos de exploração, ocasionando dificuldades para sua sobrevivência física e cultural. Os dados aqui arrolados fazem parte de uma tese de doutoramento a respeito das roças tradicionais dos índios Halíti. O objetivo deste artigo é descrever a festa do oferecimento da roça tradicional da etnia acima referida. A pesquisa ocorreu no período de 2007 a 2009, na aldeia Paraíso, situada na Terra Indígena (T.I) Pareci, município de Tangará da Serra, Mato Grosso. O trabalho de campo foi realizado por meio de abordagem qualitativa (entrevistas gravadas em fita e vídeo, conversas informais, observação participante, e caderno diário-de-campo). Verificou-se que, as festas tradicionais dos Halíti são de batizados, colheita, da menina-moça e em agradecimento ao Deus Enoré. A festa do oferecimento da roça ocorre geralmente no mês de setembro, é componente do calendário agrícola tradicional e importante meio de socialização entre as aldeias. Não apenas nos dias de festas, mas no cotidiano, a mandioca (Manihot esculenta Crantz) que é o principal item cultivado, é utilizada na produção de bebidas denominadas chicha, e do beiju tipo de bolo assado na fogueira ou no fogão a gás. As práticas tradicionais do cultivo da mandioca vêm sendo mantidas com algumas alterações nos rituais na região onde o estudo foi realizado. No entanto observou-se que é mantida a festa para o oferecimento da produção antes da colheita em aldeias desta T.I. Esta festa pode ter a duração de uma semana a quinze dias, e durante os festejos são entoados cantos e danças e são, oferecido alimentos e bebida tradicional ou não aos festeiros convidados. A permanência dos rituais ligados às práticas da agricultura indígena Haliti podem auxiliar na conservação ambiental do cerrado, e na permanecia da cultura deste povo, que atualmente, encontram-se ilhados pelo agronegócio sofrendo as conseqüências silenciosas dos impactos sócio-ambientais do novo “desbravamento do centro-oeste”.