TERRAS E ÁGUAS AO SUL – (TOPO)GRAFIAS DO OUTRO EM OPS, DE MIA COUTO
Resumo
Este trabalho averigua o percurso de pátrias itinerantes desenhado no mosaico textual de O Outro pé da Sereia, de Mia Couto. O suporte teórico-metodológico que baliza a proposta assenta-se na direção das reflexões de Boaventura de Sousa Santos, Walter Mignolo, Edward Said, Homi Bhabha, Tania Carvalhal, Benjamim Abdala Junior, Laura Padilha e Rita Chaves. De posse do léxico crítico desses estudiosos, intenta-se escavar a sintaxe multifocal e plurivocal dos encontros entre Portugal, Moçambique, Brasil, Índia e Estados Unidos da América. Comparadas, as trajetórias das personagens D. Gonçalo da Silveira, Mwadia Malunga, Rosie Southman, Constança e Benjamim Shouthman disseminam sinais de diálogos assentados, simultaneamente, dentro e fora do universo moçambicano, apontando, por conseguinte, para a configuração de itinerários narrativos onde são bordejadas relações comunitárias entre várias latitudes do mundo contemporâneo. Amparados, portanto, na visão de que as fronteiras do saber não precisam ser de separação, mas sim de aproximação, tensão e diferença reveladora de pontos de intersecção, coteja-se, finalmente, sobrelevar a feição transnacional das cartografias narrativas miacoutianas - lugares móveis por onde transitam vidas, imaginários e experiências reveladoras de diálogos e fricções interculturais que apontam para o fortalecimento do cenário crítico da (geo)grafia das identidades moçambicanas face aos limiares de um comunitarismo supranacional prospectivo alimentado pela leitura transversal dos encontros pós-abissais na escrita/voz de Mia Couto.
Referências
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