“I AM BALLROOM": TENSÕES, REITERAÇÕES E SUBVERSÕES NA PARTILHA DO SENSÍVEL DA CULTURA BALLROOM MIDIATIZADA
Palavras-chave:
partilha do sensível; cultura pop; cultura ballroom; complexidadeResumo
Este artigo objetiva discutir as tensões políticas na partilha do sensível acionadas pela cultura ballroom, mais especificamente aquela midiatizada na cultura pop por produtos audiovisuais pós-massivos. Para cartografar tais entrelaçamentos entre ballroom, política do sensível e cultura pop, utiliza-se como corpus Legendary e My House, dois programas não ficcionais, com narrativas autorais e práticas de consumo pós-massivas. A discussão empírico-teórica tem três âmbitos de análise: a diversidade entre membros da cultura ballroom; as relações de sociabilidade intra, inter e extracomunidade; e as normatizações internas deste campo. Identifica-se que, nessa outra forma de organização do mundo sensível, há algumas tensões e contradições que evidenciam a complexidade do fenômeno ballroom. Ao mesmo tempo em que são subvertidas certas normas de raça, classe, gênero e sexualidade entre o perfil dos participantes da cena ballroom e da ordem compulsória sexo/gênero/desejo da matriz de inteligibilidade, outras inflexíveis categorizações identitárias são criadas. Já as houses, estruturas familiares não consanguíneas e organizadas por afetividades, têm sido atravessadas por lógicas de consumo que ordenam os vínculos afetivos com base em negociações estratégicas. Por fim, a despeito do acolhimento dessas sociabilidades, há também reiterações coercitivas de performatividade, operantes nas dinâmicas de disputa de poder internas ao campo.
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