QUE NOITE MAIS FUNDA CALUNGA: A VINDA DE EXU AO BRASIL E A RESISTÊNCIA DA CULTURA AFRO-BRASILEIRA
Palavras-chave:
exu, cultura, cultura afro-brasileira, religião, Afro-brasilidadeResumo
Calunga ou Kalunga é o nome dado para a travessia atlântica, ou o próprio Oceano Atlântico, por onde foram levados povos africanos de diversas etnias e culturas para serem escravizados no Brasil. Parafraseando o verso “Que noite mais funda calunga” da música Yaya Massemba, cantada por Maria Bethânia no álbum Brasileirinho e que aborda o tráfico negreiro e a resistência da espiritualidade negra, esse artigo pretende analisar a construção da cultura afro-brasileira ao explorar parte do percurso histórico da divindade Exu, pertencente ao panteão africano, que se transformou em outros ao chegar ao Brasil. Justifica-se pela importância das investigações sobre lugar, memória, corpo, religiosidade e espaço cotidiano do povo afro-brasileiro. Tendo como principal referencial teórico as obras de Muniz Sodré (1988, 1998), Alves (2013), Kawahala (2014) e Costa (2012), a metodologia deste trabalho fundamenta-se no método qualitativo de pesquisa bibliográfica. Utilizando conceitos e perspectivas de diversos autores e pesquisadores que exploram temas relacionados, este artigo samba junto com Exu e rodeia as encruzilhadas da afro-brasilidade, concluindo que a espiritualidade e a cultura reverberam como formas de resistência e insistência na vida das populações marginalizadas pela escravidão.
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