A PROBLEMÁTICA NA IMPLEMENTAÇÃO DAS LÍNGUAS NACIONAIS NO SISTEMA ESCOLAR D’ANGOLA

UM CASO DE NEGLIGÊNCIA E DESVALORIZAÇÃO CULTURAL

Autores

  • Octavio Bengui José Hinda Universidade do Estado do Amazonas - UEA
  • Makosa Tomás David Universidade Federal do Sul da Bahia - UFSB
  • Justino Jorge José Universidade Federal do Sul da Bahia - UFSB

Palavras-chave:

Línguas. Multiculturalismo, Colonização, Hegemonia, Hegemonia. Currículo

Resumo

O colonialismo português em Angola trouxe grandes consequências irreparáveis, sobretudo no extermínio das línguas nacionais (David, 2023). Com o fim da colonização e a chegada da independência as línguas africanas foram colocadas em segundo plano ou mesmo em último lugar. Com o uso de uma abordagem qualitativa, baseada em análise bibliográfica e documental, o artigo examina a relação entre currículo, multiculturalismo e políticas educacionais em Angola, com foco na inclusão das línguas nacionais no sistema de ensino ou seja como o discurso político angolano justifica a exclusão das línguas nacionais, alegando obstáculos práticos, enquanto a hegemonia do português reforça a alienação cultural e a extinção progressiva dessas línguas. O multiculturalismo é apresentado como uma abordagem essencial para a construção de um currículo inclusivo, capaz de integrar as realidades culturais e linguísticas dos estudantes. A adoção de um currículo multicultural que valorize as línguas e culturas locais é essencial para combater a alienação cultural e promover um ensino equitativo. Os dados analisados mostram que as barreiras políticas e práticas, associadas à hegemonia do português, perpetuam a exclusão das línguas autóctones, mesmo estas sendo fundamentais para a identidade cultural e social de Angola

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Biografia do Autor

Octavio Bengui José Hinda, Universidade do Estado do Amazonas - UEA

É natural do Uíge, município dos Buengas, nasceu na aldeia do Kibenguiteka, Angola. Possui graduação em Ensino a História pela Escola Superior Pedagógica do Bengo (2021), Mestrando em Educação pela Universidade do Estado do Amazonas(PPGED).Presidente da Associação de Inclusão e Participação Comunitária - "AIPC";Co-fundador da Organização de Integração e Ajuda Comunitária - AIAC;Coordenou em conjuntos com os outros membros PREPARATÓRIO COMUNITÁRIO" slogan cujo Servir para uma comunidade melhor", visa contribuir massivamente os jovens aderirem aos espaços Universitários - 2020;Coordenou em Parceria com outra organização, Mostra Teu Talento", ademais, foi um campeonato co-organizado pela UFA AIPC, cujo objetivo era o combate à delinquência usando o esporte - 2021;Coordenou em parceria com Real Friendz Projeto Kikolo 100 Crime", uma iniciativa que teve como finalidade, discutir sobre os problemas de delinquência nos nossos musseques, e daí encontrarmos soluções para tal desgraça que muito dilacera os musseques; Coordenou Projeto Leitura na Banda uma iniciativa de estímulo e conscientização aos jovens ao apego aos livros, concomitante o gosto pela leitura. Participou no Evento CIT - I Congresso Internacional de Teatro do Amazonas - 2023;Participou no Workshop, em formato híbrido, com o tema Como elaborar uma tese: Dissertações e teses, promovidas pelo programa de Pós-Graduação em Educação - PPGED/UEA - 2023 ;Foi monitor da 41 Reunião Nacional da ANPED, realizada na UFAM/UEA - 2023;Palestru no mês da Consciência Negra, nos dias 16 e 23 no Museu Amazônico afeto a Universidade Federal do Amazonas - UFAM, subordinado ao tema :África em Nós ;Participou no Podcast alusivo ao dia do Museu Amazônica, subordinado ao tema: Leituras Brasil e Angola; Participou como Ouvinte do VIII Transfronteiras - Educação e Interculturalidade na Amazônia: Um Traçado de Saberes, promovido pelo Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas - PPGICH/UEA;I Seminário Nacional Aquilombar-se" Estéticas fabulatorias, escolas contracoloniais" 12 a 14 de Junho de 2024; Palestrou em conjunto com Adilson Kamy no Colégio Ideal "Bahia" sobre o tema "Dança, arte e História Africana" parte da Oficina de Dança dos alunos 7ª anos, participou na conversa sobre "Pedagogia das Margens". Encontro que traz história e tradição africana para promover a conscientização cultural, e combater o racismo; Participou como Orador "I Encontro de Linhas de Pesquisa do PPGED" com o seguinte artigo expandido "A falta das práticas pedagógicas da cultura africana e a afro-brasileira nas escolas públicas do Ensino Médio em Manaus-AM"; Participou do CINE DEBATE E OFICINA DE ABAYOMI, ação de extensão do Projeto Cinema na Comunidade, realizado em 20 de junho de 2024, na Universidade Estadual de Santa Cruz "Pró-Reitoria de Extensão".

Makosa Tomás David, Universidade Federal do Sul da Bahia - UFSB

Natural de Luanda – Angola, Makosa é estudante de graduação na Universidade Federal do Sul da Bahia – UFSB no curso de Licenciatura Interdisciplinar em Linguagens e Códigos e suas Tecnologias, tendo ingressado em 2021 por meio de uma transferência externa concedida pela sua antiga Universidade Agostinho Neto (UAN). Ex - intercambista da Universidade Estadual de Santa Cruz – UESC no curso de Letras - Língua Portuguesa, em 2021, bolsa concedida pela AULP - Associação de Universidades de Língua Portuguesa. Fez o Ensino Médio no Liceu nª 3088, em Luanda, no curso de Ciência Econômica e Jurídica (2017 – 2019). Em 2020, atou como professor formador para ingresso na universidade na sua comunidade do Kikolo-Angola. É membro do grupo de Estudo Raciais e Linguísticos (UESC) e do grupo de pesquisa Racismo e Linguagem (UFSB). Foi um dos organizadores da Primeira Jornada Internacional de Estudos de Linguagem: Racismo Linguístico e Racismo nos Estudos da Linguagem realizado em Ilhéus no ano de 2022. Desenvolveu pesquisa como bolsista na UFSB, financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia – FAPESB na qual é coordenador, pesquisando sobre Racismo e Antirracismo no Ensino de Línguas – RAEL (2022 - 2024). Colaborador da pesquisa "O Pretuguês do quilombo e dos terreiros de candomblé: educação linguística e transmissão ancestral em contação de histórias (UFSB - 2024). Ministrou a oficina Diálogos Étnicos Raciais no Colégio Estadual de Salobrinho no ano de 2022, em Ilhéus, que tinha como tema África-Brasil: cultura e ancestralidade Participou, em 2022, do curso de extensão Curso Básico de Língua. Inglesa e Interculturalidade Aberto à comunidade da UFSB Nos anos de 2022, 2023 e 2024 participou do 8º, 9º e 10º Congresso de Iniciação à Pesquisa, Criação e Inovação, realizado no campus Jorge Amado – UFSB, sendo que no primeiro ano conquistou o primeiro. lugar, no segundo e no terceiro foi reconhecido com o Prêmio Destaque de Iniciação Científica e Tecnológica na UFSB, com a pesquisa Racismo e Antirracismo no Ensino de Línguas. organizadores da palestra intitulada” Uma resposta ao estímulo-resposta: como a teoria gerativista ajudou a linguística a compreender como se aprende uma língua" proferida pelo Dr. Carlos Felipe Pinto, realizado em 2022 (UFSB). Realiza estágio na Prefeitura de Itabuna como auxiliar de vida escolar - AVE, desde 2022. Foi um dos realizadores da pesquisa "Pretoguês em comunidades quilombolas da Chapada Diamantina" – UFBA em 2023. Fez o curso Igualdade Racial nas Escolas, em 2023, promovida pelo Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH) em parceria com o Instituto de Educação a Distância da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro Brasileira (UNILAB). , "As influências das línguas bantu no português do Brasil: origens e trajetórias rumo ao pretuguês" no II Colóquio de Linguística (II COLIN) – Linguística hoje:potencialidades e interfaces, realizado pelo Centro Acadêmico de Letras Prof. Ruy Póvoas, em parceria com o Programa de Pós-graduação em Letras: Linguagens e Representações (PPGL - UESC), Kàwé - Núcleo de Estudos Afro-Baianos Regionais (NEAB) e o Laboratório de Redação, no ano de 2023. Fez o curso autoinstrucional de Formação em Linguagens e suas Tecnologias, em 2024, promovido pela Secretaria de Educação Básica no Ambiente Virtual de Aprendizagem do Ministério da Educação - AAMEC. Em 2024 fez o curso de Linguagem e pensamento: introdução representação, Linguagem e criatividade e Linguagem no mundo real oferecido pela The Open University - Inglaterra. Tem experiência na área de Letras, com ênfase em Língua Portuguesa!

Justino Jorge José, Universidade Federal do Sul da Bahia - UFSB

Sou Justino Jorge José, nascido em Angola-Luanda aos 2 de Junho de 2001, de nacionalidade angolana. Sou da etnia Bakongo. Ex-intercambista na Universidade Estadual de Santa Cruz-UESC no curso de Letras e também ex-estudante no curso de Licenciatura em Língua Portuguesa na Faculdade de Humanidades, Na Universidade Agostinho Neto-UAN.
Regular da Universidade Federal do Sul da Bahia-USFB, no curso de Licenciatura Interdisciplinar em Linguagens e seus Estudantes tecnologias. Pesquisador no Projeto Racismo e Antirracismo no Ensino de Linguas-Rael.

Poeta, declamador, Slammer

Compositor e produtor no grupo de artistas Geração Bantu e na dupla Kuntwala.

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Publicado

2025-05-25

Como Citar

Hinda, O. B. J., David, M. T., & José, J. J. (2025). A PROBLEMÁTICA NA IMPLEMENTAÇÃO DAS LÍNGUAS NACIONAIS NO SISTEMA ESCOLAR D’ANGOLA: UM CASO DE NEGLIGÊNCIA E DESVALORIZAÇÃO CULTURAL. Revista Em Favor De Igualdade Racial, 8(3), 243–260. Recuperado de https://periodicos.ufac.br/index.php/RFIR/article/view/8272