POR QUE NÃO SE MATAR?
O INTERDITO DO SUICÍDIO DOS ESCRAVIZADOS POR MEIO DA SUBSTITUIÇÃO DO IMAGINÁRIO RELIGIOSO
Palavras-chave:
Imaginário Religioso, Suicídio, subalternização, Catequização, Valorização da vidaResumo
Para além da moralização cristã, a prática do suicídio entre os escravizados apontava para a resistência contra ao sistema escravista, bem como para as esperanças imaginárias de retorno à África. O presente artigo objetiva apontar a substituição do imaginário dos escravizados no que tange as espiritualidades africanas, como mecanismo religioso católico para a interdição do suicídio. Pretende-se demonstrar que tal mecanismo estava mais a serviço da economia escravista, tanto na colônia como no império, do que ocupado e preocupado com a vida dos escravizados que foram forçosamente trazidos para o Brasil. A catequização, mecanismo para a substituição do imaginário, se estabeleceu como meio eficaz, ainda que nem sempre eficiente para a contenção dos prejuízos dos escravizadores, pois a substituição do imaginário pode ser deduzida, mas jamais mensurada. Reforçamos assim, o quanto a religião, em especial o catolicismo romano, esteve a serviço do sistema escravista no desenvolvimento da sua teologia racista, sobretudo, durante o período Medieval e no desenvolvimento da catequização de negros e negras. O artigo evidenciou-se por meio da análise de documentos históricos, bem como, por meio de referenciais bibliográficos daqueles e daquelas que se ocupam do tema da escravidão e do suicídio dos escravizados. A despeito da valorização da vida que a religião deve expressar, evidencia-se no artigo, sua atuação a serviço dos poderosos e opressores que buscavam subalternizar os corpos negros.
Referências
AALIGHIERI, Dante. A Divina Comédia. Trad. Barão da Villa da Barra. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1888.
AQUINO, São Tomas. Suma Teológica. São Paulo: Loyola, 2005. V.6 II.
BASTIDE, Roger. O Suicídio do Negro Brasileiro. Repocs, v.15, n. 29, jan./jul. 2018.
BRASIL. Lei nº 3.353, de 13 de maio de 1888. Declara extinta a escravidão no Brasil, 1888.
CASSORLA, Roosevelt M. S. Suicídio. São Paulo: Blucher, 2017.
FERREIRA, Jackson André da Silva. Loucos e Pecadores: Suicídio na Bahia do Século XIX. Dissertação (Mestrado em História). Universidade Federal da Bahia (UFBA), Salvador, 2004.
FRANCO, Clarissa de. A cara da morte: Imaginário Fúnebre no relato de sepultadores de São Paulo. Dissertação (Mestrado em Ciências da Religião). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP), São Paulo, 2008.
GOMES, Laurentino. Escravidão: do primeiro leilão de cativos em Portugal à morte de Zumbi dos Palmares, Rio de Janeiro: Globo Livros, 2019.
MINOIS, Georges. História do Suicídio. São Paulo: Editora Unesp , 2018.
MOTTA, Luiz Gonzaga. O Imaginário: em busca de uma síntese entre o ideológico e o simbólico na análise da dinâmica sócio-cultural latino-americana. Revista de Economía Política de las Tecnologías de la Información y Comunicación. v. IV, n. 3, Sep./Dic. 2002.
NETTO, Nilson Berenchtein. Educação, saberes psicológicos e morte voluntária: fundamentos para a compreensão da morte de si no Brasil Colonial. Tese (Doutorado em Educação). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP), São Paulo, 2012.
QUENTAL, Pedro Araújo. A Latinidade do Conceito de América Latina. GEOgraphia, v. 14 n. 27, p. 46-75, 2013.
SANTO AGOSTINHO. A Cidade de Deus. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1996.
SCHWARCZ, Lilia Moritz. Retrato em Branco e Negro: Jornais, escravos e cidadãos em São Paulo no final do século XIX. São Paulo: Companhia das Letras, 2017.
SILVA, Vardilei Ribeiro. Aconselhamento Pastoral e Logoterapia: Convergências possíveis frente ao Suicídio. Dissertação (Mestrado em Ciências da Religião). Universidade Metodista de São Paulo, São Bernardo do Campo, 2021.
VIDE, Sebastião Monteiro da. Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia. São Paulo: Typographia 2 de dezembro de Antônio Louzada Antunes, 1853.
VIDE, Sebastião Monteiro da. Constituições primeiras do Arcebispado da Bahia / feitas, e ordenadas pelo ilustríssimo e reverendíssimo D. Sebastião Monteiro da Vide. Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2011.
ZIERER, Adriana. A visão de Túndalo no contexto das viagens imaginarias ao Além Túmulo: religiosidade, imaginário e educação no medievo. Notandum, n.32 maio-ago., 2013.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2025 Vardilei Ribeiro da Silva
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial 4.0 International License.
Os Direitos Autorais para artigos publicados nesta revista são do autor. Em virtude de aparecerem nesta revista de acesso público, os artigos são de uso gratuito, com atribuições próprias, em aplicações educacionais e não-comerciais.