"FIRMA O TAMBOR PARA A RAINHA DO TERREIRO"

MULHERES PLURAIS E AFRO-RELIGIOSIDADE OITOCENTISTA

Autores

  • Hanna Katherine Ferreira Gomes Universidade Federal Fluminense - UFF

DOI:

https://doi.org/10.29327/269579.7.1-10

Palavras-chave:

Mulheres, Interseccionalidade, Afro-religiosidade

Resumo

O protagonismo feminino negro nas religiões afro-brasileiras é um campo de possibilidades para os estudos das experiências de mulheres racializadas em diversas temporalidades. O presente trabalho tem como objetivo analisar as casas afro-religiosas, entre 1870 e 1889 no Rio de Janeiro, como espaços de sociabilidade feminina. As chamadas casas de dar fortuna despontam na imprensa carioca como locais de articulação da religiosidade negra em uma cidade escravista. Rainhas, mães, filhas e frequentadoras se tornaram figuras marcantes para a compreensão desse objeto de estudo.  A partir da leitura de documentos, à primeira vista repletos de distorções, buscamos desvendar pistas e indícios sobre a participação de mulheres plurais nesses encontros. Sob a lógica do paradigma indiciário proposto por Carlo Ginzburg (1989), analisaremos matérias publicadas nos periódicos que circulavam no período estudado, além do processo criminal de José Sebastião da Rosa (1872). Foi possível perceber, a partir da interseccionalidade (Crenshaw, 2002), diferentes experiências femininas que se cruzavam na afro-religiosidade. Mulheres negras livres, libertas ou escravizadas, brancas trabalhadoras ou das elites se encontravam nessa encruzilhada em busca de autonomia e transformação.

Biografia do Autor

Hanna Katherine Ferreira Gomes, Universidade Federal Fluminense - UFF

Discente de mestrado no Programa de Pós-graduação em História da Universidade Federal Fluminense (PPGH/UFF). Graduada em História pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).

Referências

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Publicado

2024-03-21

Como Citar

Ferreira Gomes, H. K. (2024). "FIRMA O TAMBOR PARA A RAINHA DO TERREIRO": MULHERES PLURAIS E AFRO-RELIGIOSIDADE OITOCENTISTA. Revista Em Favor De Igualdade Racial, 7(1), 116–132. https://doi.org/10.29327/269579.7.1-10

Edição

Seção

ARTIGOS