A CO-CONSTITUIÇÃO DAS OPRESSÕES ESTRUTURAIS DA COLONIALIDADE
DA PRODUÇÃO E CAFETINAÇÃO DE SUBJETIVIDADES ÀS MICROPOLÍTICAS ATIVAS E REATIVAS
DOI:
https://doi.org/10.29327/269579.5.2-6Palavras-chave:
interseccionalidade, raça, gênero, classe, opressão, micropolíticaResumo
É fundamental constatarmos que as divisões categorizadas e segregadas das opressões modernas são, atualmente, alvos de críticas construtivas não só do feminismo negro, mas também de uma visão que ultrapassa os estigmas da normatividade ocidental e enxerga a interseção entre as diferentes opressões estruturais na base da modernidade colonial capitalista brasileira e mundial. Assim, as propostas do feminismo ocidental branco, principalmente proveniente do eixo EUA-Europa esquecem e silenciam os corpos, saberes e subjetividades das mulheres negras, não possibilitando a integração dessas mulheres na luta feminista universalista. Esquecem, na medida que não analisam, a própria história do feminismo branco, o qual apenas foi capaz de libertar mulheres brancas de classe média das amarras machistas na segunda metade do século XX, através da exploração do trabalho de muitas mulheres pretas, como exemplo, o trabalho doméstico assalariado. Estas mulheres que sofrem em seu cotidiano as violências plurilaterais das opressões estruturais da modernidade, as quais não se esgotam na raça, gênero e classe, resistiram há séculos à colonialidade de gênero, do ser, do saber e do poder pelas formas mais criadoras possíveis, as quais demonstram a existência e a prática de micropolíticas ativas capazes de descafetinar o inconsciente colonial capitalista, de Suely Rolnik. Uma dessas formas de resistência e revivência que podemos relembrar com auxílio de Lélia Gonzalez é o surgimento e inserção do pretuguês na sociedade brasileira pelas mulheres pretas da diáspora africana através das suas resistências ao português colonialista ensinando os filhos das madames. Ademais, o feminismo branco silencia, ao passo que não só não fornece um ambiente saudável para debates e diálogos, mas também se apropria de falas, teorias e vivências que foram contemporâneas ou anteriores aos cânones da teoria feminista universalista. Não apenas por sua localização geopolítica, mas também por sua pigmentação da pele, diante de uma sociedade racista que não deixa de acionar a colonialidade dicotômica e desumanizadora nas reinvindicações feministas, as mulheres pretas não puderam obter grande visibilidade e representatividade na época, algo que tenta corrigir nos dias atuais pelo movimento feminista negro e por visões decoloniais sobre o estudo de gênero. Isto é facilmente percebido na contradição do movimento de mulheres do Brasil, visto que as transformações nas últimas décadas revolucionaram os direitos e as formas como "as mulheres" são tratadas, porém encobrindo a exclusão, segregação e o silenciamento das mulheres negras. Logo, pode-se dizer que estas mudanças do feminismo branco acabaram por se tornar micropolíticas reativas ao se tratar das mulheres negras, pois se constitui dos mesmos aparatos colonialistas do regime que combatiam, excluindo e categorizando os corpos ditos não importantes.
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