Leishmaniose oral e laríngea: aspectos clínicos, epidemiológicos e nutricionais
Palavras-chave:
Leishmaniose, Leishmaniose oral, Leishmaniose laríngea, nutrição.Resumo
INTRODUÇÃO: A leishmaniose é considerada pela Organização Mundial da Saúde como uma das cinco doenças infectoparasitárias endêmicas de maior relevância e um problema de saúde pública mundial. O termo leishmaniose refere-se à infecção de hospedeiros vertebrados com os protozoários do gênero Leishmania. Nas Américas, são atualmente reconhecidas 11 espécies dermotrópicas de Leishmania causadoras de doença humana e 8 espécies descritas somente em animais.
OBJETIVO: O objetivo deste trabalho é apresentar uma revisão atualizada sobre os aspectos epidemiológicos, clínicos e nutricionais da leishmaniose mucosa oral e laríngea.
MÉTODO: Revisão da literatura nas bases de dados Scientific Eletronic Library On-line (SciELO) e Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (Medline/PubMed), utilizando-se os descritores do tema em questão.
RESULTADOS: A leishmaniose é uma doença infecciosa de evolução crônica que pode apresentar-se como forma clínica visceral, cutânea, mucocutânea, mucosa e raramente difusa. A leishmaniose oral acomete em maior frequência os lábios e palato, podendo também estar presentes em úvula, gengivas, tonsilas e língua. São lesões caracteristicamente úlcero-vegetativas de aspecto granulomatoso, e os sintomas mais comuns incluem dor, disfagia e odinofagia. A desnutrição é um fator de risco reconhecido para o desenvolvimento de leishmaniose e o estado nutricional dos indivíduos afetados tem um papel significativo no prognóstico da doença, diminuindo a resposta imune e aumentando a carga parasitária. A leishmaniose laríngea encontra-se em terceiro lugar como sítio de aparecimento de lesões mucosa. Apesar de possuir baixa prevalência, o envolvimento da laringe na leishmaniose se encontra atualmente como parte do diagnóstico diferencial de lesões laríngeas. Dentro os principais sintomas presentes em caso de envolvimento faringolaríngeo destacam-se a disfagia, dispnéia, disfonia, dor de garganta e tosse.
CONCLUSÃO: O diagnóstico precoce de lesão mucosa é essencial para que a resposta terapêutica seja mais efetiva e sejam evitadas as sequelas deformantes e/ou funcionais. Lesões orais e laríngeas geralmente são tratadas com tratamentos tópicos ou sistêmicos, incluindo injeções intralesionais, antimoniais e anfotericina B. A suplementação alimentar pode promover benefício em pacientes com leishmaniose, melhorando a resposta imunológica e a reparação tecidual.
Referências
Leishmaniose Tegumentar Americana. Guia de Vigilância Epidemiológica. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde.
Report on leishmaniasis. Geneva: World Health Organization, 2004.
Pellicioli AC, Martins MA, Sant'ana Filho M, Rados PV, Martins MD. Leishmaniasis with oral mucosa involvement. Gerodontology. 2012;29(2):e1168-71.
Motta ACF, Lopes MA, Carlos-Bregni R, de Almeida OP, Roselino AM. Oral Leishmanaiasis: a clinicopathological study of 11 cases. Oral Diseases. 2007;13:335-40.
Altamirano-Enciso AJ, Marzochi MCA, Moreira JS, Schubach AO, Marzochi KBF. Sobre a origem e dispersão das leishmanioses cutânea e mucosa com base em fontes históricas pré e pós-colombianas. Hist Cienc Saude-Manguinhos. 2003;10(3):853-82.
Jeronimo SMB, Sousa AQ, Pearson RD. Leishmania species: Visceral (kala-azar), cutaneous, and mucocutaneous leishmaniasis. In: Mandell GL, Bennette JE, Dolin R, editors. Principles and practice of infectious diseases. 6 ed. Philadelphia: Elsevier; 2005. p. 3145-56.
Ministério ds Saúde. Manual de Vigilância da Leishmaniose Tegumentar Americana. Brasilia: 2007.
Catorze MGB. Leishmaniose e SIDA. Med Cutan Iber Lat Amer. 2005;6(237-250).
Manual de Vigilância da Leishmaniose Tegumentar Americana. Ministério da Saúde do Brasil, 2007.
Lessa MM, Lessa HA, Castro TWN, Oliveira A, Scherifer A, Machado P, et al. Mucosal leishmaniasis: epidemiological and clinical aspects. Rev Bras Otorrinolaringol. 2007;73(6):843-7.
Basano SA, Camargo LMA. Leishmaniose tegumentar americana: histórico, epidemiologia e perspectivas de controle. Rev Bras Epidemiol. 2004;7(3):328-37.
Gomes ACA, Dias EOS, Pita Neto IC, Bezerra TP. Leishmaniose muco-cutânea: relato de caso clínico. Rev Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial. 2004;4(4):223-8.
Boaventura VS, Cafe V, Costa J, Oliveira F, Bafica A, Rosato A, et al. Concomitant early mucosal and cutaneous leishmaniasis in Brazil. Am J Trop Med Hyg. 2006;75:267-9.
Hernández CA. Natural history of cutaneous and mucocutaneous leishmaniasis. Biomedica. 2006;26:10-2.
da Costa DC, Palmeiro MR, Moreira JS, Martins AC, da Silva AF, Madeira MdF, et al. Oral Manifestations in the American Tegumentary Leishmaniasis. PLoS One. 2014;9(11):e109790.
Neto FXP, Rodrigues AC, Silva LL, Palheta ACP, Rodrigues LG, Silva FA. Manifestações Otorrinolaringológicas Relacionadas à Leishmaniose Tegumentar Americana: Revisão de Literatura. Arq Int Otorrinolaringol. 2008;12(4):531-7.
Fornazieri MA, Yamaguti HY, Moreira JH, Takemoto LE, Navarro PL, Heshiki RE. Manifestações Otorrinolaringológicas Mais Comuns das Doenças Granulomatosas. Arq Int Otorrinolaringol. 2008;12(3):362-5.
Melo SMD, Todt Neto JC, Andrade LCF. Pseudo-hemoptise por leishmaniose. Jornal de Pneumologia. 1999;25(6):347-50.
Amato VS, Tuon FF, Imamura R, Abegão de Camargo R, Duarte MI, Neto VA. Mucosal leishmaniasis: description of case management approaches and analysis of risk factors for treatment failure in a cohort of 140 patients in Brazil. JEADV. 2009;23:1026-34.
Aliaga L, Cobo F, Mediavilla JD, Bravo J, Osuna A, Amador JM, et al. Localizes Mucosal Leishmaniasis due to Leishmania(leishmania) infantum Clinical and Microbiologic Findings in 31 Pacients. Medicine. 2003;82(3):147-8.
Carvalho EM, Johnson WD, Barreto E, Marsden PD, Costa JL, Reed S, et al. Cell mediated immunity in American cutaneous and mucosal leishmaniasis. J Immunol. 1985;135(6):414-8.
Daneshbod Y, Oryan A, Davarmanesh M, Shirian S, Negahban S, Aledavood A, et al. Cytologic Diagnosis of Mucosal Leishmaniasis. Arch Pathol Lab Med. 2011;135:478-82.
Pavli A, Maltezou HC. Leishmaniasis, an emerging infection in travelers. Int J Infect Dis. 2010;12:e1032.
Czerniski R, Gilead L, Nasereddin A, Markitziu A. Intralesional therapy of oral leishmaniasis. Int J Dermatol 2003;42(9):752-4.
Ruas ACN, Souza LAP. Disfonia na tuberculose laríngea. CEFAC. 2005;7(1):102-7.
Sizeland A. Leishmaniosis in third world. N Engl J Med. 1995;332(9):610-1.
Lightfoot SA. Laryngeal tuberculosis masquerading as carcinoma. J Am Board Fam Pract. 1997;10(5):374-6.
Moraes BT, Filho FdS, Neto JC, Neto PS, Melo JEJ. Laryngeal leishmaniasis. Int Arch Otorhinolaryngol. 2012;16(4):523-6.
Mota LAA, Miranda RR. Manifestacoes dermatologicas e otorrinolaringologicas na Leishmaniose. Arq Int Otorrinolaryngol. 2011;15(3):376-81.
Behlau M. Voz: O livro do Especialista. São Paulo: Revinter; 2001.
Bless DM, Hirano M, Feder RJ. Videostroboscopic evaluation of the larynx. Ear, nose & throat journal. 1987;66(7):289-96.
Dejonckere PH, Remacle M, Fresnel-Elbaz E, Woisard V, Crevier-Buchman L, Millet B. Differentiated Perceptual Evaluation of Pathological Voice Quality: Reliability And Correlations With Acoustic Measurements. Rev Laryngol Otol Rhinol. 1996;117(3):219-24.
Ruas ACN, Lucena MM, Costa AD, Vieira JR, Araújo-Melo MH, Ferreira Terceiro BR, et al. Voice Disorders in Mucosal Leishmaniasis. Plos One. 2014;9(7):e101831.
Boaventura VS, Oliveira JGS, Costa JML, Novais FO, Oliveira CI, Barral-Netto M, et al. Short Report: The Value of the Otorhinolaryngologic Exam in Correct Mucocutaneous Leishmaniasis Diagnosis. Am J Trop Med Hyg. 2009;81(3):384-6.
Organização Mundial de Saúde. Working to overcome the global impact of neglected tropical diseases. WHO, 2010.
Scrimshaw NS, SanGiovanni JP. Synergism of nutrition, infection, and immunity: an overview. Am J Clin Nutr. 1997;66(2):464-77.
Cozzolino SMF. Biodisponibilidade de nutrientes. Barueri: Manole; 2007.
Bottoni A, Oliveira GPC, Ferrini MT, Waitzberg DL. Avaliação nutricional: exames laboratoriais. In: Nutrição oral, enteral e parenteral na prática clínica. 3 ed. São Paulo: Atheneu; 2000.
Gordon JE. Synergism of malnutrition and infectious disease. Geneva: WHO.
M B. 24-hours dietary recall and food record methods. In: Nutritional Epidemiology. . Oxford Oxford University Press; 1998.
França TGD, Ishikawa LLW, Zorzella-Pezavento SFG, Chiuso-Minicucci F, da Cunha MLRS, Sartori A. Impact of Malnutrition on Immunity and Infection. J Venom Anim Toxins Incl Trop Dis. 2009;15(3).
Keush GT. The history of nutrition: malnutrition, infection and immunity. J Nutr. 2003;133(1):336-40.
Malafaia G. Protein-energy malnutrition as a risk factor for visceral leishmaniasis: a review. Parasite Immunol. 2009;31(10):587-96.
Pérez H, Malavé I, Arredondo B. Effects of protein-malnutrition on the course of Leishmania mexicana infection in C57B1-6 Mice. Clin Exp Immunol 1979;38:453-60.
Taylor M, Pereira ARA, Vieira LQ, Lima SF, Alvarez-Leite JL. Protein-energy malnutririon may impair a Th1-type response to Leishmania major. . Mem Inst Oswaldo Cruz. 1996;91:228.
Prasad AS. Zinc in human health: effect of zinc on immune cells. Mol Med. 2008;14(5-6):353-7.
Prasad AS, Beck FW, Bao B, Snell D, Fitzgerald JT. Duration and severity of symptoms and levels of plasma interleukin-1 receptor antagonist, soluble tumor necrosis factor receptor, and adhesion molecules in patients with common cold treated with zinc acetate. J Infect Dis. 2008;197(6):795-802.
Sprietsma JE. Zinc-controlled Th1/Th2 switch significantly determines development of diseases. Med Hypotheses. 1997;49:1-14.
Guzman-Rivero MV-O, A, Montaño K, Cloetens L, E R, Åkesson B, Sejas E. The immune response in patients with cutaneous leishmaniasis and the influence of zinc supplementation. Biomed Pharmacother. 2015;69:56-62.
Sharquie KE, Najim RA, Farjou IB, Al-Timimi DJ. Oral zinc sulphate in the treatment of acute cutaneous leishmaniasis. Clin Exp Dermatol. 2001;26(1):21-6.
Sturniolo GC, Montino MC, Rossetto L, Martin A, D'Inca R, D'Odorico A, et al. Inhibition of gastric acid secretion reduces zinc absorption in man. J Am Coll Nutr. 1991;10(4):372-5.
Anderson B. Nutrition and wound healing: the necessity of assessment. Br J Nurs. 2005;14(19):30-4.
Havlik RJ. Vitamin E and wound healing. Plast Reconstr Surg. 1997;100:1901-2.
Palumbo E. Treatment strategies for mucocutaneous leishmaniasis. J Glob Infect Dis. 2010;2(2):147-50.
Gonzalez U, Pinart M, Reveiz L, Alvar J. Interventions for OldWorld cutaneous leishmaniasis. Cochrane Database Syst Rev. 2008;4(CD005067).
Murray HW. Leishmaniasis in the United States: Treatment in 2012. Am J Trop Med Hyg. 2012;86(3):434-40.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Esta obra está licenciada sob uma política de compartilhamento livre. Para mais informações acesse: http://creativecommons.org/licenses/by-nc-sa/2.5/br/